domingo, 14 de setembro de 2008

Exemplo de uma atitude dogmática: o fundamentalismo religioso


A compreensão do fenómeno do fundamentalismo religioso é essencial para compreender diversos factos do passado e do presente.

- A fé distingue-se do conhecimento em quê?

- Como se caracteriza a perspectiva que um fanático religioso tem do mundo?

- A atitude de um fundamentalista religioso é dogmática. Porquê?

O texto seguinte responde, com clareza, a estas e a outras questões.

«Alguns devotos religiosos sentem-se tão acossados e amargurados pela questionação ou rejeição das suas estimadas crenças que estão dispostos a recorrer ao assassínio, e até ao assassínio colectivo indiscriminado – como sucede sempre que o fanatismo se junta ao ressentimento e à ignorância para produzir a fermentação odiosa daquilo que é praticado em nome da crença. “A fé é aquilo por que morro, o dogma é aquilo por que mato”, conforme reza a máxima – e o problema é que a fé se baseia no dogma. (…)

A fé é a negação da razão. A razão é a faculdade de ajustar o julgamento à informação, depois de a pesar. A fé é acreditar mesmo mediante informação contrária. Søren Kierkegaard definiu a fé como um salto dado apesar de tudo, apesar do puro absurdo daquilo em que se pede que acreditemos. Quando as pessoas conseguem teimosamente escolher acreditar que o preto é branco, e são capazes na sua certeza absoluta, de ir ao ponto de matar quem com elas não concordar, não há muita hipótese de discussão. “A Fé, a Fé fanática, uma vez aferrando-se a uma qualquer falsidade, abraça-a até à morte”, disse Thomas Moore. (…)

A crença difere do conhecimento na medida em que, ao passo que este é verificado pelos factos e depende da existência do tipo certo de relação entre a mente e o mundo, a crença existe completamente e apenas na mente, não se baseando em nada do que existe no mundo. Em suma, é possível acreditar em qualquer coisa: que as galinhas têm dentes, que a relva é azul, e que as pessoas que não acreditam em nada disto é malévolas. É isto que torna tão sinistra a observação de Santo Agostinho: “a fé consiste em acreditar no que não se vê; a recompensa da fé consiste em ver aquilo em que se acredita” – se se consegue acreditar em tudo, consegue “ver-se” tudo – e, por conseguinte, é possível sentir-se no direito de fazer o que quer que seja: viver como um patriarca do Antigo Testamento, o que é idiota, ou mesmo matar outro ser humano, o que é vil.»

A.C. Grayling, O significado das coisas, capítulo “Fé”, Gradiva, pp. 142-144.

1 comentário:

Anónimo disse...

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