sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Qual é a utilidade do estudo da Lógica?


Para os meus alunos do 11º A.

A resposta à questão, formulada no título deste post, só pode ser verdadeiramente compreendida depois de aplicarmos os conceitos lógicos na resolução de exercícios  e na própria argumentação filosófica. No entanto, faz sentido percebermos à partida o que podemos ganhar em filosofia (e na vida em geral) com o estudo da Lógica. Os autores deste texto explicam-nos isso de forma clara.

«A lógica estuda alguns aspectos da argumentação. A lógica permite-nos 1) distinguir os argumentos correctos dos incorrectos, 2) compreender por que razão uns são correctos e outros não, e 3) evitar cometer falácias ou sofismas na nossa argumentação. Uma falácia ou um sofisma é um argumento incorrecto que parece correcto. Um argumento correcto é um conjunto de afirmações organizadas de tal modo que uma delas (a conclusão) é apoiada pelas outras (as premissas). Num argumento incorrecto as premissas não apoiam a conclusão (...).
O papel da lógica torna-se manifesto quando compreendemos que os filósofos procuram, implícita ou explicitamente, argumentos sólidos e relevantes para defender as suas ideias. Mas para sabermos se um argumento é sólido e relevante precisamos de saber se é válido. E é a lógica que nos ajuda a saber se um dado argumento é ou não válido (...).
A lógica tem dois papéis na filosofia: clarificar o nosso pensamento e ajudar-nos a evitar erros de raciocínio. A filosofia é identificada por um conjunto de problemas. Os filósofos, ao longo da história, têm respondido a esses problemas, tentando solucioná-los. Para isso, apresentam teorias e argumentos.
Precisamos da lógica para avaliar criticamente os problemas da filosofia. Se alguém quiser reflectir sobre o problema filosófico de saber por que razão as ideias verdes não são salgadas, o melhor que temos a fazer é mostrar que esse é um falso problema. Para isso precisamos de argumentos.
Precisamos da lógica para avaliar criticamente as teorias dos filósofos. Será que uma dada teoria é plausível? Como poderemos defendê-la? Quais são os seus pontos fracos e quais são os seus pontos fortes? E porquê?
Precisamos da lógica para avaliar criticamente os argumentos dos filósofos. São esses argumentos sólidos? Ou são erros subtis de raciocínio? Ou baseiam-se em premissas tão discutíveis quanto as suas conclusões?
Assim, para que os nossos estudantes possam enfrentar os problemas da filosofia de forma criativa, têm de dominar os instrumentos críticos elementares que lhes permitirão formular com clareza os problemas, as teorias e os argumentos da filosofia, e que lhes permitirão adoptar uma postura crítica — defendendo as suas próprias ideias com argumentos. A arte da filosofia é a arte da fundamentação das nossas ideias em argumentos sólidos, criativos e inteligentes. Dominar essa arte é ter a capacidade de distinguir os argumentos com essas características daqueles que não as têm, e ter a capacidade para mudar de ideias quando somos incapazes de as defender com argumentos bem fundamentados. O pensamento logicamente disciplinado não inibe portanto a criatividade; pelo contrário, promove-a(...). A lógica ajuda-nos a pensar em diferentes possibilidades. Para determinarmos se um argumento é ou não válido temos de determinar se há algum modo de as premissas serem todas verdadeiras e a conclusão falsa. Uma falácia é precisamente um argumento que parece válido a uma pessoa sem formação lógica porque ela não é capaz de ver que é possível que as premissas sejam verdadeiras e a conclusão falsa (ou seja, não é capaz de ver que a conclusão não é uma consequência lógica das premissas). O estudo da lógica contribui assim decisivamente para a criatividade filosófica, pois habitua o estudante a pensar em circunstâncias novas que de outro modo não teria em consideração.» 

Desidério Murcho e Júlio Sameiro, Lógica – 11º Ano.

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