sábado, 27 de novembro de 2010

Quem é que está contra o Contra?

De acordo com esta notícia do jornal Público, o programa da RTP Contra-Informação, que existe há quinze anos, vai acabar. Sinal da crise, sinal dos tempos políticos que correm ou ….?

É caso para dizer :( 

Vai fazer-nos  muita falta. Às vezes a realidade é tão triste que rir é mesmo o melhor remédio!

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

A resposta do determinismo moderado (4)

Acerca dos argumentos apresentados pelo determinismo moderado e de possíveis objecções a esta teoria pode ler aqui e aqui.

A resposta do libertismo (3)

Os libertistas resolvem o conflito entre o livre-arbítrio e o determinismo rejeitando o determinismo. A sua ideia mestra é que as pessoas são especiais. A marcha da ciência, subjugando os fenómenos observados a leis sem excepções, está limitada ao domínio não humano. Para os libertistas, a ciência é boa naquilo que consegue alcançar, mas nunca conseguirá prever completamente o comportamento humano. Os seres humanos, e só os seres humanos, transcendem as leis da natureza: são livres.

(…) Alguns libertistas tratam este problema postulando um tipo especial de causalidade que só os seres humanos têm, a chamada causalidade do agente. A causalidade mecânica comum, o tipo de causalidade que se estuda na Física e nas outras ciências puras, obedece a leis. As causas mecânicas são repetíveis e previsíveis: se repetir a mesma causa, uma e outra vez, é garantido que o mesmíssimo efeito ocorre de cada vez. A causalidade do agente, por outro lado, não obedece a leis. Não há como dizer de que modo um ser humano livre irá exercer a sua causalidade do agente. A mesmíssima pessoa em circunstâncias exactamente semelhantes pode, por causalidade do agente, causar coisas diferentes. Segundo a teoria da causalidade do agente, o leitor age livremente quando 1) a sua acção não é causada no sentido comum, mecânico, mas 2) a sua acção é causada por si – por causalidade do agente.”

Theodore Sider, Livre arbítrio e determinismo, (capítulo 6), págs. 153-155.

Nota: Neste blogue pode também ler sobre os argumentos a favor do libertismo (aqui e aqui) e objecções a esta teoria.

A resposta do determinismo radical (2)

A estratégia mais simples para resolver este conflito é rejeitar uma das crenças que o produzem. Podemos rejeitar o livre-arbítrio ou rejeitar o determinismo.

À rejeição do livre-arbítrio perante o determinismo chama-se determinismo radical (…).

Será que podemos viver com esta filosofia deprimente? Os filósofos têm de procurar a verdade, por mais difícil que esta seja de aceitar. Talvez o determinismo radical seja uma dessas verdades difíceis. Os deterministas radicais poderiam tentar «minimizar os estragos», argumentando que a vida sem liberdade não é tão má como se poderia pensar. A sociedade poderia ainda punir os criminosos, por exemplo. Os deterministas radicais têm de negar que os criminosos merecem punição, visto que os crimes não foram cometidos livremente. Mas podem dizer que a punição tem ainda uma utilidade: punir os criminosos afasta-os das ruas e desencoraja os crimes futuros. Ainda assim, aceitar o determinismo radical é quase impensável. Tão-pouco é claro que púdessemos deixar de acreditar no livre-arbítrio ainda que quiséssemos fazê-lo. Se o leitor encontrar alguém que afirma acreditar no determinismo radical, eis uma pequena experiência a ensaiar. Dê-lhe um murro na cara com muita força. Depois tente convencê-lo a não o culpar. Afinal, segundo ele, o leitor não teve escolha senão esmurrá-lo! Prevejo que terá muita dificuldade em convencê-lo a praticar o que prega.”

Theodore Sider, Livre arbítrio e determinismo, (capítulo 6), págs. 152 à 153.

Formulação do problema do livre-arbítrio (1)

Enigmas da existência

Para saber mais sobre o livro, ver aqui.

Compreender algumas das principais teorias filosóficas (já estudadas nas aulas) sobre o problema do livre-arbítrio e discutir os argumentos apresentados para as defender, pode ser mais fácil do que parece.

Experimentem a ler os posts seguintes (aconselho, vivamente, aos meus alunos que o façam antes do próximo teste), onde transcrevo passagens do excelente livro “Enigmas da existência” de Earl Conee e Theodore Sider e, no final, verificarão como o discurso filosófico pode ser claro, acessível e, imaginem só, até ter sentido de humor!

“Todos pensamos que temos livre arbítrio. Como poderíamos não pensar? Renunciar à liberdade significaria deixar de fazer planos para o futuro, pois de que adianta fazer planos se não temos a liberdade para mudar o que acontecerá? Significaria renunciar à moralidade, pois só quem age livremente merece censura ou castigo. Sem liberdade percorremos caminhos predeterminados, incapazes de controlar os nossos destinos. Uma vida assim não vale a pena.

No entanto, a liberdade parece entrar em conflito com um certo facto evidente. Por incrível que pareça, este facto não é segredo; na sua maioria as pessoas estão perfeitamente cientes dele (…).

Eis o facto: todo o acontecimento tem uma causa. Este facto é conhecido como «determinismo».

(…) A nossa crença no determinismo é bastante razoável porque todos vimos a ciência ser bem-sucedida, uma e outra vez, na procura das causas subjacentes às coisas. As inovações tecnológicas devem a sua existência à ciência: arranha-céus, vacinas, naves espaciais, a Internet. A ciência parece explicar tudo o que observamos: a mudança das estações, o movimento dos planetas (…). Dado este registo de êxitos, esperamos razoavelmente que a marcha do progresso continue; esperamos que a ciência venha a dada altura descobrir as causas de tudo.

A ameaça à liberdade vem quando nos apercebemos de que esta marcha acabará por nos apanhar. Do ponto de vista científico, as escolhas e os comportamentos humanos são apenas uma parte do mundo natural. Como as estações, os planetas, as plantas e os animais, as nossas acções são estudáveis, previsíveis, explicáveis, controláveis. É difícil dizer quando terão os cientistas aprendido o suficiente sobre o que faz os seres humanos funcionar, de modo a prever tudo o que fazemos, se é que se chegará aí. Mas independentemente de quando se irá descobrir as causas do comportamento, o determinismo garante-nos que essas causas existem.

É difícil aceitar que as nossas próprias escolhas estão sujeitas a causas. Suponhamos que fica sonolento e se sente tentado a pousar este livro. As causas tentam fazê-lo dormir. Mas resiste-lhes! É forte e continua a ler mesmo assim. Terá frustrado as causas e refutado o determinismo? Claro que não. O continuar a ler tem a sua própria causa. Talvez o seu amor pela metafísica supere a sonolência. Talvez os seus pais o tenham ensinado a ser disciplinado. Ou talvez seja apenas teimoso. Seja qual for a razão, houve uma causa.

Pode responder: «Mas não senti qualquer compulsão de ler ou de não ler; simplesmente decidi fazer uma outra coisa. Não senti qualquer causa.» É verdade que não sentimos que muitos pensamentos, sentimentos e decisões são causados. Mas, na verdade, isso não põe em causa o determinismo. Por vezes as causas das nossas decisões não são conscientemente detectáveis, mas existem ainda assim. Algumas causas do comportamento são funções pré-conscientes do cérebro, como ensina a Psicologia contemporânea, ou talvez mesmo desejos subconscientes, como pensava Freud. Outras causas de decisões podem nem sequer ser mentais. O cérebro é um objecto físico incrivelmente complicado, e pode «desviar-se» para esta ou aquela direcção em resultado de certos movimentos das suas partes mais minúsculas (…). Não podemos esperar ser capazes de detectar todas as causas das nossas decisões apenas por introspecção (…).

Duas das nossas crenças mais arreigadas, a nossa crença na ciência e a nossa crença na liberdade e na moralidade, parecem contradizer-se. Temos de resolver este conflito.”

Theodore Sider, Livre arbítrio e determinismo, (capítulo 6), págs. 145 à 151.

terça-feira, 23 de novembro de 2010

A data da greve geral

Creio que a greve geral pode ser justificada por diversas boas razões e, por isso, farei greve amanhã.

Contudo, discordo da data. Amanhã é quarta-feira e em breve (a 1 a 8 de Dezembro) existirão dois feriados que calham à quarta-feira. Assim, num curto espaço de tempo haverá três quartas-feiras sem aulas, sem consultas médicas e sem outras actividades que se costumam realizar nesse dia da semana. Por exemplo: uma turma que tenha aula de uma certa disciplina à quarta-feira ficará com menos três aulas do que uma turma que tenha essa aula noutro dia. O facto de os sindicatos não terem marcado a greve geral para outro dia da semana mostra que não estão muito preocupados com a produtividade nem com o desenvolvimento do país.

Aliás, essa falta de preocupação também caracteriza o actual governo (e caracterizou os anteriores). Caso contrário, alguns feriados já teriam sido abolidos, pois é manifesto que há demasiados feriados e que muitos deles já não têm nenhum simbolismo nem função social (muitas vezes as pessoas nem sabem porque é que é feriado). E não haveria também tantas tolerâncias de ponto.

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Refutação humorística da homeopatia

Em Portugal muitas pessoas, entre as quais um número considerável de professores e de alunos, acreditam em pseudociências como a astrologia e a homeopatia.

Neste vídeo, o cientista e humorista David Marçal explica com humor e inteligência porque é que essas pessoas deviam rever a sua crença na homeopatia.

 Via

 

Noutra ocasião, o mesmo David Marçal apontou as baterias à charlatanice da moda: as ridículas pulseiras quânticas. Aqui.

sábado, 20 de novembro de 2010

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

A importância da discussão

Diálogo

Ontem foi Dia Mundial da Filosofia. Uma das formas de o comemorar teria sido partilhar ideias e  discutir opiniões: o que muitas  pessoas em Portugal não fazem, nem valorizam.

Constato com  frequência - por exemplo na política e na escola - que a salutar divergência de pontos de vista é interpretada como ataque pessoal, arrogância, agressividade, atentado à estabilidade política e ao poder instituído, desrespeito pela autoridade (seja ela de que natureza for) exibicionismo e por aí adiante. Contudo,  projectar preconceitos e temores no interlocutor para o desqualificar, em vez de argumentar, chama-se desonestidade intelectual e não discussão.

O que importa numa discussão é analisar se temos boas razões  para aceitar um determinado ponto de vista ou se, pelo contrário, temos boas razões para o refutar. E isto só é possível se ouvirmos e analisarmos racionalmente os argumentos dos outros.

sábado, 13 de novembro de 2010

Dois desafios: escolham um!

Segundo Platão, os prisioneiros descritos na alegoria da caverna são semelhantes a nós.

Se admitirmos a verdade desta ideia, será que podemos estabelecer alguma relação entre o modo como algumas pessoas usam as recentes descobertas tecnológicas - a televisão, o computador (as redes sociais e os jogos, por exemplo) e a situação dos prisioneiros? Porquê?

Escolham o tema de um dos vídeos e argumentem!

Informação aos alunos: a data limite para o envio do comentário é dia 24 de Novembro. Como vos disse, só publicarei os vossos comentários depois desta data.

Bom trabalho!

Nota: Sobre a alegoria da caverna e a televisão pode ler, no Dúvida Metódica, aqui.

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

quarta-feira, 10 de novembro de 2010

A greve dos alunos

Vale a pena ler estas sábias palavras sobre a greve dos alunos. Por exemplo: os alunos que percebem quais são os seus verdadeiros interesses não gritam “abaixo os exames”.

No blogue Um Mundo Infestado de Demónios.

sábado, 6 de novembro de 2010

Indiscrições do sucesso

“No que diz respeito a teorias políticas e filosóficas, bem como a pessoas, o sucesso revela falhas e fraquezas que o fracasso poderia ter escondido da observação.”

John Stuart Mill, Sobre a Liberdade, Lisboa, Edições 70, 2006,  pág. 30.

Indisciplina na universidade

Ultimamente ouvi várias histórias deste género:

«Uma professora universitária que conheço, experiente, competente, dinâmica, desempoeirada e, além disso, pessoa brilhante e de grande qualidade moral, anda desanimadíssima dizendo que não pode mais com muitos dos alunos que tem agora. Conversam continuamente nas aulas, não ligam nenhuma às advertências, não sabem coisas elementares nem mostram interesse em saber e são até insolentes e grosseiros. De tal modo que já uma vez ou outra abandonou a aula por não poder suportar mais o ambiente.» (Via)

De quem é a culpa?

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Duas experiências estéticas distintas

Este post é dedicado aos meus alunos do 11º C.

Já observei várias vezes, ontem numa das minhas turmas foi apenas mais uma, que muitos alunos (talvez a maioria) tendem a rejeitar certo tipo de música, por exemplo jazz e música clássica. Consideram-na - cito o que já ouvi – antiquada e pouco adequada aos gostos musicais da juventude actual. Em suma, gostos de pessoas mais velhas, sem qualquer interesse…

Bem, só há um facto curioso: se os jogos  de computador ou os filmes tiverem como banda sonora essa enfadonha música clássica, então aí, o que antes era uma experiência estética pouco suportável (ou mesmo insuportável), torna-se algo não só audível como até susceptível de ser apreciado.

Oiçam as duas músicas, vejam as imagens dos vídeos seguintes e expliquem-me qual é a diferença?

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O valor da disciplina – a opinião de um pai sensato

“Uma professora brava”: Crónica do jornalista João Miguel Tavares, descoberta no blogue A Educação do meu Umbigo. Vale a pena ler e reler.

«Eu ainda não tive o prazer de conhecer pessoalmente a nova professora da minha filha mais velha, mas já gosto dela por antecipação. Três dias depois de ter entrado para a primária, a Carolina declarou solenemente: “A minha professora é brava”. Brava?!?, perguntei eu. “Sim, brava. Ela não me deixa espreguiçar, ela não me deixa bochechar [a Carolina queria dizer ‘bocejar’], ela não me deixa beber água [a Carolina queria dizer ‘ela não me deixa interromper a aula para fazer o que me apetece’]. É muito brava”.

Eu, que estava com algum receio de colocar a Carolina no ensino público, respirei de alívio. “Ufa, parece que lhe saiu a professora certa”, comentei com a minha excelentíssima esposa. Receava que lhe tivesse calhado alguém que falasse com ela como a ministra Isabel Alçada falou connosco no famoso vídeo de início do ano lectivo: como se o nosso cérebro estivesse morto e todo o acto de aprendizagem tivesse de ser um desmesurado prazer.

A Carolina vinha de um infantário fantástico, que tem feito maravilhas pelos nossos filhos, mas onde era mais mimada do que o menino Jesus no presépio. Ora, chega uma fase na vida em que as crianças têm de perceber o que significa a disciplina, o esforço, a organização, o silêncio, o saber estar numa sala de aula, e toda uma vasta parafernália de actividades que não são tão agradáveis como comer Calippos de morango ou gerir o guarda-roupa das Pollys – mas que ainda assim são essenciais para viver em sociedade.

A minha filha está na idade certa para aprender que tem a obrigação de gastar 20 minutos diários a fazer o trabalho de casa. Para perceber que uma irmã mais velha tem mais privilégios mas também mais deveres do que os seus irmãos. Para compreender que com muito poder vem muita responsabilidade (sábias palavras do tio do Homem-Aranha). É essencial que estes valores – que atribuem o devido mérito à liberdade e ao esforço individual – estejam alinhados entre a casa e a escola.

Isso nem sempre acontece. A nossa escola passou num piscar de olhos da palmada no rabo à palmadinha nas costas. Ninguém tem saudades da palmatória, mas quando perguntam aos pais o que eles mais desejam para a escola dos seus filhos, a resposta costuma ser esta: regras claras e maior exigência. Os professores bravos fazem muita falta. Hoje a Carolina protesta. Amanhã irá agradecer-lhe.»

Tesouros diante do nariz

“Plínio, o Jovem, observou que as pessoas viajam longe para ver coisas que, se estivessem debaixo dos seus narizes, seriam negligenciadas e desprezadas. Isto sugere que devíamos habitar a nossa vida como viajantes, curiosos e alerta, procurando a estranheza nas coisas, por forma a vê-las pela primeira vez.”

A. C. Grayling, O significado das coisas, Lisboa,  Gradiva, 2002,pág. 242.

Música mesmo, mesmo a condizer: After the rain, de John Coltrane.