terça-feira, 30 de setembro de 2014

A alegoria da caverna: o texto de Platão

Plato's cave allegory

"- Imagina agora o estado da natureza humana com respeito à ciência e à ignorância, conforme o quadro que dele vou esboçar. Imagina uma caverna subterrânea que tem a toda a sua largura uma abertura por onde entra livremente a luz e, nessa caverna, homens agrilhoados desde a infância, de tal modo que não possam mudar de lugar nem volver a cabeça devido às cadeias que lhes prendem as pernas e o tronco, podendo tão-só ver aquilo que se encontra diante deles. Nas suas costas, a certa distância e a certa altura, existe um fogo cujo fulgor os ilumina, e entre esse fogo e os prisioneiros depara-se um caminho dificilmente acessível. Ao lado desse caminho, imagina uma parede semelhante a esses tapumes que os charlatães de feita colocam entre si e os espectadores para esconder destes o jogo e os truques secretos das maravilhas que exibem.

- Estou a imaginar tudo isso.

- Imagina homens que passem para além da parede, carregando objectos de todas as espécies ou pedra, figuras de homens e animais de madeira ou de pedra, de tal modo que tudo isso apareça por cima do muro. Os que tal transportam, ou falam uns com os outros, ou passam em silêncio.

- Estranho quadro e estranhos prisioneiros!

- E, no entanto, são ponto por ponto tal qual como nós. Em primeiro lugar, julgas que percepcionarão outra coisa, de si mesmos e dos que se encontram a seu lado, além das sombras que na sua frente se produzem, no fundo da caverna?

- Que outra coisa poderão ver, pois que, desde o nascimento, foram compelidos a conservar a cabeça permanentemente imóvel?

- Verão, apesar disso, outras coisas além dos objectos que passam à sua rectaguarda?

- Não.

- Se pudessem conversar uns com os outros, não concordariam em dar às sombras que vêem os nomes dessas mesmas coisas?

- Sem dúvida.

- E se no fundo da sua prisão houvesse eco que repetisse as palavras daqueles que passam, não imaginariam que ouviam falar as sombras mesmas que desfilam diante dos seus olhos?

- Sim.

- E, por fim, não julgariam eles que nada existiria de real além das sombras?

- Não há dúvida.

- Pensa agora naquilo que naturalmente lhes aconteceria se fossem libertados das suas cadeias e se fossem elucidados acerca do erro em que estavam. Liberte-se um desses cativos, e que ele seja obrigado a levantar-se imediatamente, a voltar a cabeça, a andar e a enfrentar a luz: nada disso poderá fazer sem grande esforço; a luz encandear-lhe-á a vista e o deslumbramento produzido impedi-lo-á de distinguir os objectos cujas sombras via antes. Que julgas tu que responderia se lhe dissessem que até então apenas vira fantasmas e que agora tem ante os olhos objectos mais reais e mais próximos da verdade? Se lhe mostrarem imediatamente as coisas à medida que se forem apresentando, e se for obrigado, à força de perguntas, a dizer o que é cada uma delas, não ficará perplexo e não julgará que aquilo que dantes via era mais real do que aquilo que agora se lhe apresenta?

- Sem dúvida.

- E se o obrigassem a enfrentar o fogo, não adoeceria dos olhos? Não desviaria os seus olhares, para dirigi-los para a sombra, que enfrenta sem dificuldade? Não julgaria que essa sombra possui algo de mais claro e distinto do que tudo quanto se lhe mostra?

- Certamente.

- Se agora o arrancarmos da caverna e o arrastarmos, pela senda áspera e fragosa, até à claridade do Sol, que suplício o seu por ser assim arrastado! Como está furioso! E, uma vez chegado à luz livre, os olhos ofuscados com o fulgor dela, poderia ver alguma coisa da multitude de objectos a que chamamos seres reais?

- De início ser-lhe-ia impossível.

- Necessitaria de tempo, sem dúvida, para se acostumar a eles. Aquilo que distinguiria melhor seria, em primeiro lugar, as sombras; e, logo a seguir, as imagens dos homens e dos mais objectos, reflectidos à superfície das águas; por fim, os próprios objectos. Daí volveria os olhos para o céu, cuja visão suportaria com maior facilidade durante a noite, à luz da Lua e das estrelas, do que durante o dia, à luz do Sol.

- Sem dúvida.

- Por fim, encontrar-se-ia em condições, não só de ver a imagem do Sol nas águas e em tudo aquilo em que se reflicta, como de olhá-lo e contemplar o verdadeiro Sol no seu verdadeiro local.

- Sim.

- Depois disto, pondo-se a reflectir, chegaria à conclusão de que o Sol é o que determina as estações e os anos, e o que rege todo o mundo visível e que, de certo modo, é causa daquilo que se via na caverna.

- É evidente que chegaria gradualmente a tais reflexões.

- E se, então, se recordasse da sua primeira habitação e da ideia que aí formavam da sabedoria, ele e os seus companheiros de escravidão, não se regozijaria com a mudança e não teria compaixão da desgraça daqueles que permaneciam cativos?

- Certamente.

- Crês tu que agora ele sentisse ciúmes das honras, das vaidades e recompensas ali outorgadas àquele que mais rapidamente captasse as sombras, àquele que com maior segurança recordasse as que iam atrás ou juntas e por tal razão seria o mais hábil em prever a sua aparição, ou que invejasse a condição daqueles que na prisão eram mais poderosos e mais honrados? Não preferiria, como Aquiles, segundo Homero, passar a vida ao serviço dum pobre lavrador e sofrê-lo, a voltar ao seu primeiro estado e às suas primitivas ilusões?

- Não duvido de que preferiria suportar todos os males possíveis a voltar a viver de tal modo.

- Atenta, pois, nisto: se regressasse novamente à sua prisão, para voltar a ocupar nela o seu antigo posto, não se acharia como um cego, na súbita passagem da luz do dia para a obscuridade?

- Sim.

- E se, no entanto, ainda não distinguisse nada e, antes que os seus olhos se houvessem refeito, o que apenas poderia acontecer depois de muito tempo, tivesse de discutir com os mais prisioneiros sobre essas sombras, não se tornaria ridículo aos olhos dos outros, que diriam dele que, por ter subido até lá acima, perdera a vista, acrescentando que seria uma loucura o eles pretenderem sair do lugar onde se encontravam, e que, se alguém se lembrasse de tirá-los dali e levá-los para a região superior, se tornaria necessário prendê-lo e matá-lo?

- Indiscutivelmente.

- Pois, meu querido Glauco, é essa, precisamente, a imagem da condição humana. A caverna subterrânea é este mundo visível; o fogo que a ilumina, a luz do Sol; o prisioneiro que ascende à região superior e a contempla é a alma que se eleva até à esfera do inteligível. É isto, pelo menos, o que penso, já que o queres conhecer, mas só Deus sabe se é certo. Pelo que me toca, a coisa afigura-se-me tal como te vou comunicar. Nos últimos limites do mundo inteligível encontra-se a ideia do bem, que só com dificuldade se percebe, mas que, todavia, não pode ser percebida sem que se conclua que ela é a causa primeira de quanto há de bom e de belo no universo; que ela, neste mundo visível, produz a luz e o astro do qual a luz irradia directamente; que, no mundo visível, engendra a verdade e a inteligência; que é preciso, enfim, ter os olhos fitos nessa ideia, se quisermos conduzir-nos honestamente na vida pública e privada.

- Na medida em que pude compreender a tua ideia, concordo contigo.

- Tens, pois, de admitir e não estranhar que aqueles que alcançaram essa sublime contemplação desdenhem da intervenção nos assuntos humanos e que as suas almas aspirem, incessantemente, a fixar-se nesse lugar eminente. Assim deve ser, se isto está em conformidade com a pintura alegórica que esbocei.

- Assim deve ser."

Platão, "República".

quinta-feira, 25 de setembro de 2014

Ciência 2.0 - um site português de divulgação científica

"De que se ocupam os astrónomos? Nos dias de hoje, os astrónomos já não dedicam a maior parte do seu tempo a espreitarem através da ocular dos telescópios. Existem, na verdade, várias outras atividades que preenchem esta profissão. Perceba em que consiste “ser” astrónomo, na curta desenvolvida pelo Centro de Astrofísica da Universidade do Porto (CAUP), com a produção do Ciência 2.0."

"Porque é que existe o vício da cocaína? Que efeitos provoca no cérebro? Porque existe a sensação de prazer ao consumi-la e porque depois existe ansiedade?"

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Porque não se entendem os filósofos?

busto de Sócrates do Museu do Vaticano 
Esta escultura representa o filósofo grego Sócrates (470-399 a.C). É da época romana e foi feita a partir de um original grego do séc. IV a.C (atribuída ao escultor  Lisipo). Pode ser visitada no Museu do Vaticano, na sala dos filósofos, em Itália.

Ao iniciarem o 10º ano, há alunos que se confrontam com algumas perplexidades. Eis uma delas:
Para responder a um mesmo problema filosófico (por exemplo, o livre-arbítrio ou a existência de Deus) há teorias diferentes, e por vezes opostas. Sendo assim, alguns alunos perguntam-se: “qual é a matéria que temos de saber para responder às perguntas dos testes de Filosofia?”
Porque motivo, ao contrário do que passa nas diferentes ciências - em que se estudam as teorias aceites num dado momento - os filósofos não se entendem em relação à maioria das questões filosóficas e continuam a discordar entre si?
Embora, na actualidade, existam alguns tópicos filosóficos - por exemplo: os direitos cívicos das mulheres e a imoralidade da escravatura - onde há consenso a maioria das respostas a dar aos problemas filosóficos estão sujeitas à controvérsia.
Porque será assim?
O filósofo Nicholas D. Smith, no livro excelente de introdução à Filosofia Que diria Sócrates?, explica porquê.
“Muito do que acontece em filosofia (tanto nas áreas em que há progresso como naquelas em que o progresso parece ter estancado) acontece porque não temos acesso ao tipo de dados que confirmam ou refutam claramente as nossas teorias. O nosso processo é de longe menos simples e menos sequencial do que o da ciência – ainda seguimos as mesmas regras com que o antigo filósofo Sócrates operava. Isto é, um filósofo declara uma teoria, e os restantes, agindo como Sócrates tentam descobrir razões que levem a considerar essa teoria falsa, com falhas ou incompleta. Assim, em certo sentido, a maior honra e atenção que um filósofo pode conceder ao trabalho de outro (embora este nem sempre veja as coisas desta maneira, note-se!) é tentar refutar o trabalho do colega. Isto porque a maior parte da atenção filosófica concedida é a crítica – alguém que dedica tempo e recursos cognitivos a refutar o meu trabalho está deste modo a anunciar ao mundo que considera o meu trabalho suficientemente importante para merecer tal atenção, em vez de considerar que o mais que ele merece é ser mudamente votado ao esquecimento. Em filosofia, os melhores amigos do mundo são amiúde, no campo profissional, críticos um do outro (…).
Assim, uma das razões porque os filósofos dão a impressão de nunca estar de acordo é justamente o facto de não ser de supor que estejamos de acordo! O nosso trabalho é discordar, e discordar muito significativamente, dado que é assim que fazemos o nosso melhor para testar se as teorias que temos diante de nós são ou não verdadeiras. (…) ao estar de acordo, estamos de facto a reconhecer que não somos suficientemente inteligentes para ter detectado falhas que as teorias possam conter.
No entanto, isto não significa que não façamos progressos. Há seguramente teorias filosóficas que foram totalmente abandonadas (e por boas razões), e é por demais evidente que, graças à nossa forma crítica de “controlo da qualidade”, as nossas teorias são hoje em dia mais sofisticadas (e menos fáceis de refutar).”
As citações foram tiradas deste livro, págs. 71 e 72.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

Medo do medo

Uma sugestão musical dos meus alunos. Vale a pena ouvir atentamente a letra da canção.

sexta-feira, 19 de setembro de 2014

Qual é a utilidade do estudo da Lógica?


Para os meus alunos do 11º A.

A resposta à questão, formulada no título deste post, só pode ser verdadeiramente compreendida depois de aplicarmos os conceitos lógicos na resolução de exercícios  e na própria argumentação filosófica. No entanto, faz sentido percebermos à partida o que podemos ganhar em filosofia (e na vida em geral) com o estudo da Lógica. Os autores deste texto explicam-nos isso de forma clara.

«A lógica estuda alguns aspectos da argumentação. A lógica permite-nos 1) distinguir os argumentos correctos dos incorrectos, 2) compreender por que razão uns são correctos e outros não, e 3) evitar cometer falácias ou sofismas na nossa argumentação. Uma falácia ou um sofisma é um argumento incorrecto que parece correcto. Um argumento correcto é um conjunto de afirmações organizadas de tal modo que uma delas (a conclusão) é apoiada pelas outras (as premissas). Num argumento incorrecto as premissas não apoiam a conclusão (...).
O papel da lógica torna-se manifesto quando compreendemos que os filósofos procuram, implícita ou explicitamente, argumentos sólidos e relevantes para defender as suas ideias. Mas para sabermos se um argumento é sólido e relevante precisamos de saber se é válido. E é a lógica que nos ajuda a saber se um dado argumento é ou não válido (...).
A lógica tem dois papéis na filosofia: clarificar o nosso pensamento e ajudar-nos a evitar erros de raciocínio. A filosofia é identificada por um conjunto de problemas. Os filósofos, ao longo da história, têm respondido a esses problemas, tentando solucioná-los. Para isso, apresentam teorias e argumentos.
Precisamos da lógica para avaliar criticamente os problemas da filosofia. Se alguém quiser reflectir sobre o problema filosófico de saber por que razão as ideias verdes não são salgadas, o melhor que temos a fazer é mostrar que esse é um falso problema. Para isso precisamos de argumentos.
Precisamos da lógica para avaliar criticamente as teorias dos filósofos. Será que uma dada teoria é plausível? Como poderemos defendê-la? Quais são os seus pontos fracos e quais são os seus pontos fortes? E porquê?
Precisamos da lógica para avaliar criticamente os argumentos dos filósofos. São esses argumentos sólidos? Ou são erros subtis de raciocínio? Ou baseiam-se em premissas tão discutíveis quanto as suas conclusões?
Assim, para que os nossos estudantes possam enfrentar os problemas da filosofia de forma criativa, têm de dominar os instrumentos críticos elementares que lhes permitirão formular com clareza os problemas, as teorias e os argumentos da filosofia, e que lhes permitirão adoptar uma postura crítica — defendendo as suas próprias ideias com argumentos. A arte da filosofia é a arte da fundamentação das nossas ideias em argumentos sólidos, criativos e inteligentes. Dominar essa arte é ter a capacidade de distinguir os argumentos com essas características daqueles que não as têm, e ter a capacidade para mudar de ideias quando somos incapazes de as defender com argumentos bem fundamentados. O pensamento logicamente disciplinado não inibe portanto a criatividade; pelo contrário, promove-a(...). A lógica ajuda-nos a pensar em diferentes possibilidades. Para determinarmos se um argumento é ou não válido temos de determinar se há algum modo de as premissas serem todas verdadeiras e a conclusão falsa. Uma falácia é precisamente um argumento que parece válido a uma pessoa sem formação lógica porque ela não é capaz de ver que é possível que as premissas sejam verdadeiras e a conclusão falsa (ou seja, não é capaz de ver que a conclusão não é uma consequência lógica das premissas). O estudo da lógica contribui assim decisivamente para a criatividade filosófica, pois habitua o estudante a pensar em circunstâncias novas que de outro modo não teria em consideração.» 

Desidério Murcho e Júlio Sameiro, Lógica – 11º Ano.

quinta-feira, 18 de setembro de 2014

O pior de Nuno Crato





O pior do ministro Nuno Crato talvez não sejam as imensas coisas que fez mal (nomeadamente, a desvalorização arbitrária de umas disciplinas em detrimento de outras, os empurrões para o desemprego e a diminuição das condições de trabalho de professores que antes já tinham más condições de trabalho). O pior talvez seja o facto de a natural indignação com essas maldades levar muitas pessoas a rejeitar algumas das poucas coisas boas que ele fez (por exemplo, as metas curriculares e a introdução de mais exames) e a duvidar da bondade de algumas das suas boas ideias infelizmente ainda não concretizadas (por exemplo, a condenação do “eduquês” e da sua nefasta pedagogia).
Mas não nos enganemos. Nuno Crato é um péssimo ministro e quando se for embora não deixará saudades. Contudo, os exames (bem feitos, claro), embora não sejam uma solução mágica e única, são muito importantes e o “eduquês” está realmente errado.
Oxalá o próximo ministro da educação consiga manter o pouco que há de bom em Nuno Crato e corrija os seus inúmeros erros. Um deles, que roça o patético, é a incapacidade de reconhecer falhas – como se tem visto com a negação de que houve erros na colocação de professores quando é óbvio que houve milhares de erros e que esses erros influenciam globalmente os concursos.
Oxalá, mas… duvido. Seja qual for o partido a formar o próximo governo e seja qual for o ministro da educação, duvido que não seja mau. Afinal de contas, se Nuno Crato, com todas as boas ideias pedagógicas que tinha e que defendeu publicamente com tanta clareza, fez o péssimo trabalho que está à vista, não vale a pena esperar grande coisa de outro ministro qualquer.

terça-feira, 16 de setembro de 2014

terça-feira, 9 de setembro de 2014

As aulas ainda não começaram e já faltei mais de um dia

professor

Passam alguns minutos das 14 horas do dia 9 de setembro de 2014 e ainda não saiu a lista de colocações do chamado “concurso de mobilidade interna”, onde tive de participar devido ao facto de ter horário zero. Note-se que o ministro da educação prometeu que a lista sairia no início da semana e ontem prometeu que sairia hoje. Ainda não sei portanto onde irei dar aulas na próxima segunda-feira.

Apesar disso, já faltei seis tempos este ano letivo (o que dá, salvo erro, 1,1 dias da falta). Faltei a uma reunião de departamento, a uma reunião geral de professores e a uma reunião do subdepartamento de filosofia, pois achei que não fazia sentido ir a reuniões preparatórias de um trabalho de que, contra a minha vontade, não farei parte.

Bem, mas se estamos no dia 9 do primeiro mês de trabalho e eu já faltei mais de um dia, talvez seja necessário concluir que sou um professor balda e faltista, apesar de no meu processo profissional constarem poucas faltas. A menos que as pessoas com funções dirigentes (do ministério da educação para baixo) com influência neste processo não saibam o que estão a fazer. 

Para quem não sabe, faço notar que bastaria a direção do Agrupamento de Escolas Pinheiro e Rosa ter-me atribuído seis tempos letivos (por exemplo uma turma e uma direção de turma) para eu não ter horário zero. Repito: seis – 6 - tempos letivos. Seis tempos. Seis tempos. Seis tempos. Perceberam? Apenas seis tempos.

sábado, 6 de setembro de 2014

O Dúvida Metódica no ano letivo 2014-15

open-window

Este blogue existe como projeto curricular da Escola Secundária de Pinheiro e Rosa desde 2008. Os nossos principais destinatários foram, desde o início, os alunos. Disponibilizámos, sobretudo, recursos didáticos para o ensino da Filosofia no secundário. Também partilhámos outros materiais com interesse artístico, literário, científico e, por vezes (quando o tempo escasso permitia), opiniões acerca de assuntos filosóficos e educativos.

Foi um trabalho de equipa gratificante, a nível pessoal e profissional. A criação deste blogue (apesar das difíceis condições de trabalho que sempre tivemos) foi, utilizando uma analogia, uma grande janela que se abriu para fora da escola e da sala de aula: permitiu aprender muito, trocar e confrontar ideias, participar em discussões públicas com várias pessoas ligadas ao ensino da Filosofia (no país e fora dele). Tudo isso fez com que o esforço para manter o “Dúvida Metódica” ao longo destes anos tivesse valido a pena.

Se o sucesso de um blogue educativo se avaliar pelo número de visitantes, de visualizações de páginas ou de reconhecimentos públicos de alguns especialistas da área, podemos dizer que tivemos sucesso.

Mas se o sucesso de um blogue educativo for medido pelo feedback dos professores que utilizaram os recursos disponibilizados ou que o leram diariamente, o balanço já será diferente, pois esse feedback, na maior parte dos casos, não existiu. A maioria dos que passaram por aqui (880.210 visitantes) ou utilizaram os recursos (colocados no programa Scribd, ver AQUI e AQUI), e foram muitos milhares, não deixaram qualquer sugestão, crítica ou comentário.

A partilha dos recursos didáticos e o trabalho colaborativo - descritos nas teorias pedagógicas e nos documentos do ministério como desejáveis e uma forma de melhorar a qualidade do ensino - na prática acabam por ser, em muitos casos, uma miragem. Há várias razões para explicar isso, mas vou referir apenas uma delas: os professores que não estudam nem investem na preparação das aulas e que são incapazes de expor publicamente o seu trabalho não querem dialogar com os colegas que o fazem e encaram-nos como arrogantes e presunçosos, mesmo que se aproveitem do que estes partilham. Recentemente, uma professora de Filosofia apelidou-me a mim e ao Carlos de “arianos da Filosofia”. É compreensível que se reaja assim perante quem perturba a inatividade ou a pode tornar mais evidente aos olhos dos outros.

Este tipo de atitude é depois justificado através de uma ideia popular entre a classe docente: não há factos objetivos em educação e, portanto, a qualidade das aprendizagens dos alunos e o mérito da profissão não podem ser avaliados (nem pelo trabalho público desenvolvido, nem pelos resultados dos alunos na avaliação externa, nem por outro tipo de atividades que se realizem). Ou seja: a ideia de que não há nenhuma maneira imparcial e fidedigna de comparar e distinguir os professores, ao contrário do que acontece nas outras profissões. É irónico que assim se pense: os professores têm permanentemente de avaliar e distinguir o desempenho dos alunos, mas eles próprios não podem ser avaliados sem suspeição. Esta ideia é conveniente, pelo menos para alguns professores, pois ajuda a manter o status quo e a defender que a graduação profissional, cujo principal fator é a antiguidade, é o único critério aceitável.

Para que serve, então, um professor empenhar-se e tentar constantemente melhorar, se a antiguidade é considerada o critério decisivo em coisas tão importantes como a distribuição do serviço e a atribuição dos horários zero?

É o dever do professor para com os alunos. Contudo, em termos de carreira, não serve para nada. O excelente trabalho que o meu colega Carlos Pires fez neste blogue, nas suas aulas, na divulgação da escola e da Filosofia não lhe serviram para nada: foi-lhe atribuído horário zero e terá que ir para outra escola, onde provavelmente não terá turmas de Filosofia.

Assim, ainda que ele se mantenha como autor e esporadicamente volte a escrever aqui, este blogue passará por isso a ser diferente. Lamento muito que assim seja.

No presente ano letivo, este blogue só não deixou de ser um projeto curricular da escola porque me foram atribuídas turmas de Filosofia. Continuarei a divulgar no “Dúvida Metódica” o que faço nas minhas aulas por acreditar que os professores de Filosofia devem dar um contributo para melhorar a qualidade do ensino e a imagem pública da disciplina. Desempenharmos as nossas funções com profissionalismo e competência contribui para que a disciplina de Filosofia não desapareça do ensino secundário. Ao contrário do que muita gente parece pensar, este não é um dado adquirido e o futuro poderá ser ainda pior que o presente.

Sara Raposo

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

Um bom ano letivo a todos!

Desejo que este seja um ano cheio de novas aprendizagens, boas experiências e, já agora, ainda melhores classificações que as do ano passado!

A sugestão musical (uma das minhas músicas favoritas) foi feita a pensar na turma A do 11º (de quem voltarei a ser professora), nomeadamente no Tiago Silveira e no João Melo que tocam guitarra e nos brindaram, no ano passado, com música na aula de Filosofia.

 

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Mensagem para o futuro

Bertrand Russell

No final de uma entrevista televisiva, em 1959, perguntaram a Bertrand Russell o que gostaria ele de dizer às pessoas do futuro acerca da sua vida e das lições que nela tinha aprendido. Ao responder, Bertrand Russell afirmou que gostaria de dizer duas coisas às gerações vindouras, uma intelectual e outra moral – e falou da objetividade da verdade e da tolerância. Eis um filósofo que, além de amar a sabedoria, alcançou uma boa porção dela.